A figura do empreendedor muitas vezes é associada à figura de uma pessoa dinâmica, que tem sempre novas idéias e não tem medo de arriscar. O senso comum a respeito do empreendedor vai de encontro ao que é observado por algumas teorias sobre o papel do empresário na economia.
São muitas as visões possíveis sobre o papel do empresário na economia. Nas ciências econômicas, a reflexão sobre o papel do empresário vem mudando. Isto porque a própria organização das empresas e o papel destas no crescimento econômico está mudando. A visão tradicional do empresário nas ciências econômicas é a de um indivíduo racional, que observa os sinais de mercado e toma decisões baseadas nestes sinais, de forma a maximizar seus lucros. Nessa visão, o empreendedor é um gestor de recursos, tanto físicos – equipamentos e capital financeiro – quanto humanos – pessoal – e busca alocá-los da forma mais eficiente possível. A visão do empreendedor como gestor de recursos predominou na época em que as grandes empresas absorviam a maior parte do emprego industrial e eram voltadas para a produção em massa. Nessa época, denominada por muitos autores de fordismo, o crescimento das empresas era determinado por sua capacidade de reduzir custos por meio de economias de escala, e de encontrar sempre novos clientes que garantissem a demanda por seus produtos padronizados.
As empresas fordistas, adotando uma estratégia de redução de custos, garantiram a colocação dos seus produtos, primeiro nos mercados dos países desenvolvidos, depois nos mercados dos países em desenvolvimento. À medida que estes mercados foram se esgotando, aumentou a demanda por produtos diferenciados, o que estimulou as grandes empresas a adotarem estratégias de diferenciação de produtos, por meio de adoção e desenvolvimento de inovações tecnológicas, e de terceirização e subcontratação de atividades. Estas estratégias abriram espaço para que empresas menores, especializadas em determinados produtos pudessem competir com as grandes. Assim, observa-se no declínio do fordismo um aumento da importância relativa das empresas pequenas no emprego industrial e uma redução do tempo de vida dos produtos no mercado.
Assim, hoje em dia, o cenário com o qual o empresário se defronta é diferente do cenário com o qual ele se defrontava na época do fordismo. O empresário precisa estar sempre buscando inovações e ficar atento às mudanças nos gostos dos consumidores que criem oportunidades de novos negócios. Nesse cenário, ele não pode mais ser um mero gestor de recursos. As teorias mais recentes das ciências econômicas valorizam, assim, outras características do empresário empreendedor a partir de um questionamento das idéias da teoria tradicional.
Em primeiro lugar, a idéia de observação de sinais de mercado, colocada pela teoria tradicional, vem sendo questionada. Esta idéia pressupõe que todos os empresários têm acesso ao mesmo tipo de informação e que a informação circula livremente na economia. Não é o que se verifica na prática: de fato, informação é um bem que tem valor, e as empresas de maior poder econômico vão ter acesso a mais informações do que as empresas pequenas. Apesar de, hoje em dia, o acesso a informações das empresas pequenas ter melhorado com recursos, como a internet, existem, ainda, vantagens associadas ao tamanho na obtenção de informações, principalmente informações especializadas que são importantes para o planejamento dos negócios. As empresas maiores podem inclusive se beneficiar do seu melhor acesso às informações para obter novas oportunidades de negócios.
Em segundo lugar, a idéia de racionalidade econômica vem sendo qualificada. Estudos recentes sobre estratégias competitivas das empresas evidenciaram que muitas vezes as metas perseguidas pela empresa não são as metas tradicionais de maximização de lucros e redução de custos. Estas estratégias podem ser definidas tendo como objetivo a penetração em novos mercados, o aumento da parcela de mercado de empresa ou mesmo a satisfação pessoal dos gerentes das empresas.
Assim, o empresário empreendedor, na visão das teorias mais recentes, é aquele que busca garantir a sua empresa o acesso a informações especializadas que permitam a ela identificar oportunidades de negócios e acompanhar as mudanças na demanda. Além disso, este empresário será capaz de definir metas que estejam de acordo com as necessidades da empresa, e rever constantemente estas metas, para que esta possa sobreviver no mundo de hoje, que é caracterizado por incerteza e flutuações constantes na demanda.
O empresário empreendedor, na visão das teorias mais recentes, seria, assim, um indivíduo curioso, criativo, aberto, capaz de improvisações, capaz de lidar com incertezas, capaz de selecionar os recursos mais adequados para responder a desafios, e que define a capacidade competitiva da sua empresa por meio de idéias. Estes atributos são fundamentais para a sobrevivência das empresas no mundo de hoje e devem ser sempre lembrados, principalmente pelas pessoas que estão iniciando seu próprio negócio ou iniciaram seu negócio há pouco tempo.
Fonte
LA ROVERE, Renata Lèbre. Empreendedorismo e teoria econômica. [S.l.: s.n.].